É curiosidade da maioria das pessoas se uma dominadora profissional pode se apaixonar por um submisso de sessão tributada. No imaginário delas é como se isso demonstrasse uma falta de controle, profissional e pessoal se misturam, tira a relação de hierarquia vertical e a coloca numa horizontalidade baunilha, é como se o romance ganhasse da dominação.
Eu posso afirmar sem medo que sim, ela pode. Inclusive conheço dominadoras que começaram relacionamentos com submissos de sessões tributadas e depois se casaram com eles. Somos seres humanos nos relacionando com outros seres humanos e estamos suscetíveis a ter que lidar com uma infinidade de sentimentos.
É no trabalho que muitas relações começam, fazemos amigos, mas também podemos nos apaixonar por alguém com quem convivemos muito, isso todo mundo sabe. Por que no nosso caso seria diferente? Não há um código de ética profissional, cada domme estabelece suas regras a partir de seus princípios, mas até as mais rígidas estão vulneráveis a sentir o que não desejam. Entretanto, amar é um ato, uma escolha e iniciar um relacionamento com um submisso também.
Sei que você deve estar querendo saber se eu já me apaixonei por um sub e eu sinceramente creio que aprendi nesse tempo como profissional a me apaixonar por todos. Todos têm uma característica especial, eu me apaixono por um olhar de desejo, por um jeito de falar “Sra”, por um cheiro, um toque... Eu sou apaixonada pelo o que faço e já estou acostumada a me apaixonar por estranhos que eu posso nunca mais ver sem que isso me faça mal, pelo contrário, isso me fez desenvolver uma empatia e uma amabilidade pelo outro sem precedentes, que eu nunca imaginei que teria.
Sem fugir pela tangente, quando o assunto é amor platônico, não nego que eu sou rainha nessa matéria desde muito antes de conhecer a dominação e é tarefa árdua me preservar da intensidade do que sinto, mas é preciso.
Quem escolhe nosso estilo de vida aprende rápido que ele não vem com manual de instrução e que ninguém pode ensinar as lições mais importantes que só a prática ensina. A terapia me ajuda muito a lidar com o que não posso evitar sentir, mas posso escolher não vivenciar. Descobri que trabalhar nessa condição insalubre é um preço que se paga nesse ofício.
No nosso caso existe uma complexidade a ser levada em consideração: A dominadora profissional cria uma persona, ou seja, exercemos uma espécie de representação diferente do nosso caráter, ninguém é dominadora 24 horas por dia! Muitos esquecem que para além da nossa imagem hipersexu@lizada e super poderosa, existe uma pessoa que não tem só qualidades, mas também defeitos, inseguranças e problemas, como qualquer outra. Observo o fenômeno de que submissos se apaixonam facilmente pela persona, mas quantos deles estariam dispostos a amar e assumir a mulher real por trás da domme para a família, os amigos e toda a sociedade?
O estigma e o preconceito social são pedras que a gente carrega ao escolher essa profissão. Se eu indico uma Prodomme a se envolver com um submisso de sessão tributada? A resposta é não. Qual profissional de qualquer área indicaria isso? É fatal que se não der certo, além de sair com o coração quebrado, a relação de trabalho findará e há grandes chances de se sentir usada.
Que a persona da dominadora é objeto de desejo de muitos homens não é novidade, mas se sentir objetificada como pessoa por conta do seu trabalho é de uma complexidade dolorosa que eu não desejo a ninguém. Ainda por cima, a maioria dos submissos que nos procuram são comprometidos, e qual é a vantagem de ter um relacionamento romântico baseado em mentiras com alguém que já está com outra pessoa? Eu não vejo nenhuma! Por isso, estabelecer limites é fundamental.
Limites relacionais e sentimentais hoje fazem parte do SSC para mim, eu preciso deles para me manter sã. Escolho não brincar com fogo e me manter longe das chamas, cada um sabe o tamanho da dor que pode queimar dentro de si. Toda escolha implica uma renúncia, no meu caso, meu trabalho está em primeiro lugar. Aprendi a amar todos os meus submissos e a não renunciar ao meu trabalho por nenhum.
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