Faz tempo que eu não escrevo aqui, sumi das redes sociais, desativei meu site, entrei em hiato e parei. Era começo de 2023, e todo mundo me perguntava:
- Por quê?
É preciso parar quando o corpo não aguenta, quando a gente não consegue sustentar internamente as decisões difíceis que a vida nos obriga a tomar. Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa muito ligada a minha família, essa relação sempre apareceu nos meus textos. Nunca deixei de lado esses afetos familiares nos anos como dominadora profissional, na verdade muito do caminho que percorri nesse tempo foi por conta deles, ainda que eles não compreendam.
Aprendi na prática que esse mercado do prazer é capaz de gerar um capital bem maior do que a maioria dos trabalhos formais, especialmente os precarizados. Mas qual é o preço que se paga para fazer dinheiro e ser bem-sucedida no meio fetichista? Eu não posso falar por outras mulheres, só posso falar sobre minha experiência: na minha eu me dedicava 24 horas ao trabalho, trocava o dia pela noite, não tinha horários certos, nem sequer uma rotina. Havia todo um esforço empenhado e uma cobrança interna para manter um corpo dentro do padrão, uma imagem atraente e a minha versão acadêmica e ativista. Vivia uma exposição demasiada após o reality show e ao posar para a Revista Sexy, enquanto isso, eu fugia de lidar com a solidão na maior parte do tempo. A exclusão social causada pelo estigma, e a pressão para ser a melhor profissional e pesquisador me fez eu levar uma vida disfuncional.
Não posso negar que por outro lado, também foi lindo nesse tempo intenso de trabalho poder criar a minha própria técnica de dominação, fazer centenas de sessões, conhecer tanta gente diferente interessante, aprender sobre as convenções implícitas entre homens e mulheres, sobre marketing, ativismo e direitos humanos.
Realizei vários sonhos e vivi intensamente os prazeres e dissabores de trabalhar como dominadora profissional, ofício corajoso, interessante e subversivo.
Tive que ter muita coragem para sair da caixa normativa social que me prendia e me lançar ao desconhecido repleto de estigma. Todo mundo tem uma opinião sobre esse trabalho mesmo sem nunca ter exercido ele. A discriminação hipócrita circulava em rodas de conversas, aparentemente inocentes, e todo tipo de preconceito era jogado sem pudor bem na minha cara! Cada palavra discriminatória que eu ouvia era uma pedrada em meu corpo, que machucava a alma.
- Atire a primeira pedra e até a centésima, que eu continuarei de pé! - eu dizia em silêncio.
Seguia em frente com as escoriações e feridas abertas, pois não havia tempo para cicatrizá-las entre uma pedrada e outra. Depois de um tempo, quando as pedradas vinham de desconhecidos eu já não me importava mais, mas quando vinham de pessoas amadas eu nunca soube lidar.
Me vi diante de um rompimento entre a vida pessoal da Bianca por conta da vida profissional da Brigitte. Minha vida era o trabalho e a vida baunilha era só uma fantasia. Realidade e fantasia se misturavam a tal ponto, que a vida real tinha se tornado um pesadelo. O destino me deu um golpe inesperado, me fez adoecer e cair de cama, presa em uma espiral de dor, que por anos eu evitava sentir. Estava refém de uma vida totalmente fora do meu controle. Nada fazia sentido, porque tudo o que eu queria quando comecei a dominar era poder controlar a minha vida sozinha.
Foi correndo no meio do olho do furacão que eu percebi que precisava parar e pausar tudo o que estava construindo com a Lady Brigitte para poder me redescobrir, e parei (até agora).
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